A LUXÚRIA
A luxúria é o pecado contra a castidade. A castidade é uma virtude. A luxúria é um vício. A castidade é um meio termo entre dois excessos, a luxúria e a frieza insensível. A castidade não significa ausência de prazer sensual ou apatia sexual. É pobre a definição que identifica a castidade com a virgindade. A castidade significa pureza e inocência espiritual, fruto do reto ordenamento da razão no comando dos desejos do corpo. A luxúria, por sua vez, é uma contaminação espiritual e um desordenamento dos desejos sensuais. Em outras palavras, a luxúria é o desejo desmesurado do prazer que faz do seu portador um refém do sexo.
A luxúria é o mais sedutor dos pecados capitais. A sedução da luxúria vem do seu objeto, o sexo. O ter, o poder, a vaidade, a comida e a bebida seduzem, mas o sexo faz perder a cabeça. A luxúria é o pecado que faz perder a cabeça pelo desejo desenfreado de prazer sexual. É tão poderoso e sedutor esse pecado capital que Jesus chegou a afirmar que o simples olhar desejante para o corpo de outro/a, já é pecado, o pecado da luxúria. Imaginar-se pecando só de desejar mentalmente é o que se pode dizer de maior na linhagem dos pecados. Se qualquer pecado é uma forma de perder a cabeça, o pecado da luxúria é quando o corpo manda a cabeça dar uma volta para ver se ele está lá na esquina...!
A luxúria é o mais sedutor dos pecados capitais, mas não é o maior e nem é o mais nocivo. Os moralistas, essas almas que enxergam pecado em tudo, são exímios em transformar o sexo no “pecado dos pecados”. Mas isso parece falso. É claro que a luxúria não concorre com outros vícios, sobretudo com o vício da avareza, que é muito mais destrutivo e prejudicial para um justo convívio humano. Se não fosse assim a bíblia falaria muito mais dos “perigos da cama” do que dos perigos da falta de partilha e solidariedade. E não é o que acontece. Jesus se preocupa mais com a “mesa” do que com a “cama”. Os pecados do egoísmo, soberba, avareza são mais destrutivos, para o seu portador e para os outros, do que os “pecados da cama”. Contudo, a luxúria não fica fora da lista dos pecados capitais e causa estragos, sobretudo, na alma do seu portador.
A
sexualidade e o sexo são dádivas dos deuses e da natureza. São fontes de
transcendência, prazer, satisfação e felicidade. Contudo, diziam os medievais,
somente dentro do casamento e em vista da procriação. Fora desse ambiente e
desse propósito, o sexo era visto como desordenado, pecaminoso e
autodestrutivo. Fora do matrimônio e fora do propósito de procriação, o sexo,
diziam os medievais, é fonte de adultério, estupro, prostituição, incesto e de
pecados variados contra a natureza, como é o caso da homossexualidade e a
zoofilia.
A
pergunta que fica é: só fora do matrimônio a luxúria pode se manifestar ou
também no seu interior? A resposta poderia ser dada em forma de perguntas: são
possíveis a intemperança e o abuso mesmo no interior do matrimônio? É possível
tomar o corpo do outro/a, esposo ou esposa, como objeto do seu próprio desejo e
prazer, sem respeitar sua vontade livre? Se a resposta a estas perguntas for
“sim”, então, parece, que os “bem casados” não estão imunes a esse pecado
capital.
Alguém
pode estar instado a pensar que uma vida reta e virtuosa é uma vida sem graça e
uma chatice sem fim. É possível. Mas uma vida devassa e de luxúria, onde o sexo
seja seu princípio, é ou não é uma completa desgraça? Haverá felicidade sem paz
de espírito e haverá paz de espírito sem serenidade e paz no corpo? A luxúria é
uma espécie de guerra permanente cujo general, soldado e armas são o próprio
corpo que faz da alma uma prisioneira, que só será liberta quando a juventude
se for e a velhice, finalmente, tomar posse do corpo obrigando-o a “sossegar o
facho”.
Até que a velhice não
chega para tomar conta, é prudente que a razão siga no comando, submetendo o
corpo, para o bem do próprio corpo.
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