A INVEJA
A
inveja é o pecado contra a caridade. A caridade é uma virtude. A inveja é um
vício. O caridoso se alegra com a alegria, sucesso e felicidade do outro. O
invejoso, não. O invejoso não suporta ver a felicidade do outro sem perturbar e
entristecer a sua alma. A inveja é o pecado da tristeza pela alegria do outro.
A
inveja, “invídia” em latim, é um vício e significa, literalmente, “olhar com
malícia”. O olhar malicioso mira o feliz e o brilho dos olhos do invejoso se
apaga e seu corpo murcha. Diante de alguém bem-sucedido a alma do invejoso se
agita. O invejoso se entristece na presença de alguém que tem dons e
qualidades, beleza e inteligência, bem-sucedido, amorosa e financeiramente. A
única alegria do invejoso seria transformar em sofrimento a alegria do outro.
Cuidado!
A inveja não é desejar ter o que o outro tem. Desejar ter o que o outro tem é
cobiça. A cobiça tem lá sua positividade por obrigar o cobiçoso a trilhar o
caminho do trabalho, da iniciativa e do empreendimento para ser bem-sucedido
também. A cobiça faz o seu portador trabalhar e empreender para ter o carro, a
casa ou qualquer dos bens que o vizinho ou amigos têm. A cobiça tem seu lado
positivo, estimulante e provocador.
A
inveja, não. A inveja sempre é negativa e envenenadora. Ela não faz o indivíduo
transcender e querer ser e ter mais. O invejoso vê no outro algo que ele
gostaria de ter, mas não tem e, por isso, se entristece e passa, não raramente,
a odiar, maldizer e tramar contra o outro. É o efeito “olho gordo”. A inveja é
destrutiva e a tudo envenena. Ao invés de melhorar a si mesmo, a inveja incita
a diminuir e até destruir o outro. Aí está o seu pecado!
O
pecado da inveja é o um pecado envergonhado. O invejoso não se assume como
invejoso. Somos capazes de nos vangloriar do pecado da luxúria, gula e até da
avareza, mas a inveja gera desconforto. Todos nós nos achamos vítimas da inveja
alheia, todavia não admitimos e não confessamos a própria. Se confessássemos,
estaríamos munindo o outro de armas contra nós mesmos e isso nos deixaria ainda
mais fracos e tristes. Mas no fundo, bem lá no fundo, somos todos invejosos. Ou
será que alguém é imune a esse pecado capital?
Quem
se achar imune pode ser que seja por autoengano, ou por disfarce. Autoengano,
disfarce ou, às vezes, inconfessável maldade. A maldade do invejoso faz com que
ele não se aguente e destile seu veneno mortífero contra o invejado,
minimizando ou diminuindo as suas conquistas. As formas de fazer isso são
variadas e sutis.
Diante
de alguém jovem, bonito/a e com notável sucesso na carreira e na vida amorosa, alguém que aumenta o seu salário, ganha um prêmio ou uma honraria, compra uma casa na
praia ou compra um carro melhor, qual a atitude do invejoso? Alegra-se junto ou
disfarça a própria tristeza dizendo, com boa dose de maldade, destilando
veneno: “dinheiro e bens materiais não são tudo, bom mesmo é ter saúde”...! Ou
então: “os bens matérias passam, tudo passa”...! Ou ainda: “Não se apega a
essas coisas, coisas exteriores pouco importam, o que importa é a riqueza
interior”...! Ou ainda: “A beleza e a juventude são passageiras, o essencial é
invisível aos olhos”...! Inveja disfarçada, ou sutil maldade...! A felicidade
alheia é insuportável. E quanto mais próximo o outro, maior é a inveja. Se for
entre irmãos então...!
Como
não evocar, aqui, os casos bíblicos de Caim e Abel e do filho mais velho da
parábola do Filho Pródigo? A inveja causa tristeza e envenena seu portador ao
ponto de desejar, não só fazer gracinhas e ironias, mas até matar o invejado. A
inveja mata! É o caso de Caim que mata Abel, seu irmão mais novo, pelo simples
fato de Deus ter-se agradado da oferta das primícias e das gorduras das ovelhas
do pastor Abel, porém não ter-se agradado da oferta dos frutos da terra do
agricultor Caim. A narrativa não deixa claro porque Deus se agrada de uma
oferta e não da outra. Aparentemente não há motivo. Mas a narrativa deixa claro
que o que motivou o primeiro assassinato da história foi a inveja. Caim achou
insuportável o sucesso e o reconhecimento de seu irmão. O texto diz que Caim
“ficou irritado e abatido” e descarregou sua ira e tristeza, não cobrando
explicações a Deus de porque não gostou da sua oferta, mas matando o irmão sem
que este tivesse alguma culpa aparente. Tudo por inveja. A inveja mata!
Na
narrativa do filho pródigo, o filho mais velho não mata o filho mais novo, o
esbanjador, quando retorna à casa do pai e este lhe prepara uma festa de
arromba. Contudo, não haveria motivo do filho mais velho não se alegrar com o
retorno do seu irmão que estava perdido, mas ao invés de se alegrar com a
alegria do irmão, entristece-se profundamente e reclama do pai que ele sim
merecia uma festa e não o filho gastão e perdulário. Inveja, pura inveja!
A
inveja é o pecado do olhar malicioso e envenenador. Não sem razão Dante, na
Divina Comédia, coloca os invejosos num círculo do purgatório, amontoados na
beira de um penhasco estreito e de abismo profundo, com um castigo deveras
apropriado ao seu pecado. Eles estão impossibilitados de ver, pois suas
pálpebras são fechadas e costuradas com fio de arame. Se o pecado entra pelos
olhos, então que o castigo seja não ver. Parece justo!
Como
eu tenho medo de escuro e morro de medo de penhascos e abismos e não me passa pela
cabeça passar uma temporada no purgatório, estou seriamente pensando em olhar
para o bem-sucedido e dizer na cara: “ você não poderia moderar na felicidade
não? Só um pouquinho, ajude aí...!”
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