A SOBERBA
A soberba é o pecado
contra a humildade. A humildade é uma virtude. A soberba é um vício. A virtude
da humildade é o reconhecimento da própria verdade, nem mais nem menos. A
humildade não é desprezo de si. O desprezo de si é uma maldade e uma injustiça
contra a autoestima. A humildade é uma virtude de justa medida entre a soberba
arrogante e o desprezo de si. A soberba, por sua vez, é achar-se maior do que
se é. Se o desprezo de si é uma falsa humildade, um tornar-se menos do que se
é, o pecado da soberba é o exagero e a inflação de si, é um excesso do eu, um
pecado por inflação do ego.
A soberba é um outro
nome para a vaidade e o orgulho. O soberbo se acha melhor do que é e melhor de
todos os outros. O soberbo “se acha”! Por “se achar” deixa de considerar os
outros como iguais, alimentando uma falsa superioridade, enganosa e danosa,
pois, em se tendo “numa conta excessiva”, pensa ser mais do que é e, por conta
disso, deixa de procurar ser melhor, achando que já é “o melhor”. O efeito
espiritual e moral dessa atitude viciosa é devastador. Aliás, tudo o que
afronta a reta razão e a verdade, é devastador. E o soberbo afronta a razão e a
verdade ao pretender ser o que não é.
A soberba é o pecado do
excesso do eu. A soberba é a mãe de todos os pecados pois alimenta
uma vaidade em demasia e um senso exagerado da própria importância. É a mãe de todos os pecados porque o seu
portador se acha, infla o peito e está sempre pronto a dizer, em alto e bom som:
“sabe com quem você está falando?” É o pecado da arrogância e o arrogante não
se sente confortável a não ser como um “pequeno deus”. É o pecado de Adão e
Eva. O pecado de Adão é cair na tentação de querer ser igual a Deus e não
aceitar a condição humana.
Ser humano significa
aceitar-se como “aquele que veio do húmus”. A humildade nada mais é do que
saber-se de origem do húmus. Húmus, humano, humilde são da mesma família
ontológica e etimológica. O soberbo pensa que pode se bastar, quando na verdade
o bastar-se é a coisa mais estranha ao humano, vulneráveis, dependentes e
frágeis que somos.
O mais prejudicado no
pecado da soberba é o próprio soberbo pelo efeito devastador na sua alma, mas
não só. O efeito da soberba recai também sobre os outros, inferiorizando-os,
diminuindo-os e desprezando-os. A bem da verdade, na soberba, o ciclo do pecado
se fecha porquanto o seu portador, ao transgredir a lei eterna de Deus, acaba
causando danos a si e aos outros. Pecar contra Deus, contra si e contra os
outros. Eis aí a tríade da essência do pecado.
Mas tem mais. No caso
do humano em geral, caímos na tentação da soberba sempre que nos achamos
superiores aos outros seres e por isso o efeito devastador, hoje mais do que
evidente, desse pecado, sobre a natureza e os animais. Quanto mal praticado
pela atitude soberba de nos acharmos a “cereja do bolo da criação”, diminuindo
todos os outros seres, submetendo-os ao nosso domínio! Quanto mal!
Os vícios ou pecados
capitais trabalham juntos, subordinados a um principal, a soberba. Caberia aqui
pensar na ideia de que todos os males estão submetidos ao príncipe do mal, o
diabo, e o diabo é diabo não só por ser velho, mas, sobretudo, por ser soberbo.
Ele, o tinhoso, simplesmente não aceitou não ser deus e se rebelou, contra
Deus, por soberba. O diabo não se tornou diabo pelo pecado da luxúria, da gula,
da avareza ou da preguiça. Não. O diabo, um anjo decaído, decaiu pela soberba
de querer ser deus. Pela soberba participamos do diabólico! Essa é uma lição
metafísica que dá o que pensar.
Pensar, ao lado de
amar, são as duas formas humanas mais elevadas para não decairmos banalmente no
pecado e no mal. Pensar e amar! Amar e pensar!



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