EDUCAR PARA QUE?


Não faltam motivos e razões para a tristeza e desânimo, mas quem educa encontra na esperança a alegria para a nobre tarefa de transformar o animal humano, agressivo e até violento, em humano ético e civilizado, amante da paz e do bem.
Educar na alegria para a paz e para o bem não é sinônimo de ingenuidade otimista de quem desconheça os limites da tarefa de tirar o humano da ignorância e da violência que estão sempre à espreita e prontas para nos puxar de volta para o fundo da caverna de onde viemos e nos encontramos, segundo Platão, antes de todo processo pedagógico de libertação operado pelos educadores e pensadores.
Educar é sinônimo de esperança ativa, consciente e generosa, de todos os que sonham que os bens desejados da paz, liberdade, igualdade e fraternidade não estão no passado, mas estão no futuro esperando de braços abertos a todos os homens e mulheres de boa vontade que, em vida, souberam ser sal que preserva da corrupção e luz que ilumina o caminho dos que são confiados à nobre tarefa educativa que faz extrai da pedra a obra de arte que é o ser humano.
Educar na alegria para a paz e bem é antecipar, no presente, o futuro que vem, irrompendo a casca que protege o passado que teima em continuar sendo no aconchego do conhecido e conquistado.
Educar na alegria para a paz e bem é ir além ilha do conhecido, rumo ao desconhecido que assusta e causa temor, mas recompensa quem chega e colhe seus frutos sempre prontos para se oferecer aos sábios que transmitem a tradição inovando.
Educar é fazer vir à luz o que está guardado no interior de cada ser, mas que é despertado pelo condutor que mostra o caminho de saída da caverna escura que envolve o precioso tesouro do conhecimento que faz transbordar em alegria e contentamento a cada degrau alcançado em direção da luz.
A alegria não está nas coisas e nos resultados alcançados, mas está em nós e se oferece no caminho, mesmo que não haja um destino seguro. A alegria do educador é a sensação de paz interior experimentada pela certeza subjetiva do dever cumprido, muito mais do que o resultado alcançado. A alegria se dispõe e se oferta no caminho, mais do que na chegada.
A paz não é sinônimo de silêncio, calmaria, tranquilidade e não contradição. Se fosse assim o lugar mais pacificado seria o cemitério. Não se educa com não contradição, com calmaria e com pacificação artificial. A paz é um estado de alma alcançado somente pela justiça nas relações assimétricas e entre não iguais. Na família e na escola, paz é sinônimo de diálogo, conversação, normas consensuadas e respeitas pelos participantes.
Educar para a paz e bem é educar para respeito ao outro, a natureza e animais. O contrário da paz não é a guerra, mas a violência. A guerra pode ser entendida como movimento e contrariedade de pontos de vista e isso faz tanto o educador quanto o educando entrar numa dialética estimulante de posições e contraposições em forma cada vez mais elevadas, quando os dialogantes estão desarmados e abertos a aprender com o olhar e o dizer do outro.  A violência não, a violência é a negação e a morte do outro. A violência não torna melhor o forte e só causa sofrimento ao perdedor. Na violência não há vencedor, só violentador e violentado. Na paz há alegria e ambas são fruto da justiça, a virtude por excelência.
Educar na alegria para a paz e bem é tarefa dos pais e professores, mas é sobretudo tarefa dos filhos e dos estudantes, pois educação é uma atividade e não um ato mecânico de transmissão de conhecimento, como ocorre quando passamos a água de um copo cheio para um copo vazio. Ninguém está cheio, e não há vazio, educador e educando são tão somente atores, com papeis diferentes e, às vezes, trocados, em cena permanente no palco da vida.

Comentários

Ir. Marta Maria disse…
Pois é, Fr. Gilmar! Muito boas as tuas ideias sobre "educar"... Sempre é bom lembrar os profissionais da educação "a que vieram" e "como permanecer" e a hora de, delicadamente, "sair". Vc mostra esse cenário. Obrigada! Abraço!
NICE disse…
Educar é algo que se faz em comunhão, não são atos isolados... Muito bem ilustrado. Grata por iluminar-nos com tuas ideias.
Gilmar Zampieri disse…
Obrigado Nice e irmã Marta Maria!

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