OS ESTÓICOS: SOFRIMENTO E MORTE
Como ser feliz apesar das adversidades que advém do mundo exterior? Motivos para uma vida infeliz e triste não faltam, afinal, por todos os lados que vemos as coisas, desde a política, economia e mesmo a religião, as coisas são de aborrecer. O nosso tempo é um tempo em que, ou encontramos um bom motivo e razão interna para viver, ou o suicídio será um dever. O curioso é que em todos os tempos foi assim, ou será que na idade média, nos tempos de guerras, pestes e fome, a vida era melhor? No tempo dos estoicos, as condições de existência, sob impérios e o consequente fim da vida da polis, que dava sentido à vida através da ampla participação na vida púbica, eram muito similares aos nossos tempos: descrédito com a política, com a tradição, com os costumes, com as religiões etc. E aí entra a sabedoria desses filósofos cosmopolitas que diziam e ainda podem nos dizer algo sobre a vida boa ou, pelo menos, uma vivida com sabedoria.
O estoicismo é um movimento filosófico de sucessivas gerações e que perdurou por séculos (III a. C – III d. C). O fundador foi Zenão de Cício (335 -264 a. C), que viveu em Atenas, mas a filosofia ganhou notoriedade no Império Romano, com Cícero (106 - 43 a. C), Sêneca (4 a. C – 65 d.C) e Marco Aurélio (121 -180).
O que ensinavam esses filósofos? Que sabedoria os fizeram eternos a tal ponte de hoje ainda serem revisitados e atuais?
Três ideias parecem sintetizar o que pensavam e que se dividia em três partes: lógica, ética e física. Segundo Diôgenes de Laêrtios essas três partes são como um ovo: a casca é a lógica, a clara é a ética e a gema, a física. Talvez querendo dizer que a natureza é a medida e a norma da ética e da linguagem. Vejamos as três ideias força:
a) A sabedoria consiste em considerar a natureza como divina, como portadora de leis, de um Logos, as leis da natureza, da qual participamos e somos em miniatura. A natureza é um Cosmo, um todo ordenado, e cada indivíduo é um microcosmos. Compreender e aceitar a Ordem da natureza, do Cosmo, é a mais alta das sabedorias e a finalidade última do humano. Saber o que cabe ao indivíduo na ordem do todo, eis a sabedoria. A ‘centelha do Logos’ em nós, pela razão, pode nos tornar sábios, compreendendo o Cosmo e vivendo segundo a sua natureza.
b) Do ponto de vista da ética, ou da vida feliz, da vida boa, os estoicos, coerentes com o princípio das leis da Natureza, ensinavam o desprezo total das paixões e adequação total ao que acontece, ao destino, pois nada é por acaso. Se os eventos e processos naturais são regidos por leis constantes, e nós fazemos parte da natureza, então sábio é o que, compreendendo, aceita o destino que lhe é reservado sem perturbação da alma. Nem euforia e nem lamentação ou choro. O que acontece tem uma razão de ser, então porque perturbação da alma, em excesso de sofrimento, quando ocorre uma doença ou morte de alguém? Por acaso é possível mudar o fato? Então, que não mude o humor, pois isso só trará agitação da alma e em nada lhe beneficiará. É preciso, então, negar as paixões e viver sob a luz da razão, aceitando o destino sem querer mudar o que não pode ser mudado. Aguentar no osso do peito as desgraças, mas também não se alterar e entrar em euforia nas vitórias, é manter uma vida de altivez e virtuosa que nos faz sábios. Os tolos se alteram facilmente, vivendo uma vida sob o comando superficial dos sentidos e das paixões.
c) A vida feliz é uma vida virtuosa e a vida virtuosa é saber o que é por vocação, por destinação, o que é reservado a cada um fazer. O que é reservado a cada um deve ser feito da melhor forma e viver a cada momento como se fosse o último. E a morte? A morte é ilusória. O todo sobrevive e não morre e a morte pessoal é uma benção, pois, pela morte individual, finalmente entraremos na imortalidade do todo da natureza que nos absorve e nos eterniza.
A filosofia estoica foi belamente sintetizada na “oração da serenidade”, de autor desconhecido, mas que certamente estava sob inspiração estoica, senão vejamos:
Concedei-me, Senhor a serenidade necessária
Para aceitar as coisas que não posso modificar.
Coragem para modificar aquelas que posso e
Sabedoria para conhecer a diferença entre elas.
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