O SAGRADO



Sagrado é o amor. O amor é sagrado. Sagrado é o que amamos. O que amamos é sagrado. Sagrado é o que, por sua causa, estamos dispostos a viver e morrer. Deus já foi sagrado. A pátria já foi sagrada. O Estado já foi sagrado. A revolução já foi sagrada. As utopias e ideologias já foram sagradas. Muitos viveram e morreram por esses sagrados.
Quem, atualmente, se dispõe a morrer pela pátria, estado, partido, utopias, ideologias e revolução? Você morreria por Deus em que crê? E pela nação? E por ideologias? Possivelmente ainda haverá alguém disposto a morrer por esses amores, os fanáticos, certamente. Mas, e os não-fanáticos? Por quem morreria um não fanático, um cético e um relativista? Por quem morreria um típico homem dos tempos líquidos pós-modernos? Ainda morreríamos por algo, nós, os não-fanáticos?
Por algo fora de nós (Deus, Pátria, Estado, Utopias, ideologias, revolução), penso que, infelizmente, não morreríamos mais. Será isso prova que o nosso tempo é a dessacralização do mundo? Claro que não. Apenas que o sagrado não se encontra mais fora e além de nós, mas em nós mesmos. Para o homem pós-moderno, o humano é o que ainda permanece de sagrado. Sagrados somos nós mesmos. O humano é o que sobrou de sagrado. Será?
Do humano, os mais próximos são os mais sagrados. Dos mais próximos, a família e as pessoas que amamos, preferencialmente, são o que nos resta de sagrado. Os filhos permanecem sagrados. Os pais permanecem sagrados.  E os outros? Os outros, os estranhos, os diferentes, os de fora do círculo de proximidade, amamos também, mas amamos em abstrato como quem ama a humanidade. É fácil amar a humanidade. Mas morreríamos pela humanidade? Morreríamos para salvar e libertar um ladrão das mãos dos justiceiros furiosos? Morreríamos, jogando-nos ao mar, para salvar um desconhecido, um migrante fugindo dos perigos dos regimes violentos, das guerras e da falta de condições dos seus países de origem? Morreríamos para salvar uma tribo de índios, tal como os Guaranis Kaiowás?
Por aquilo que estamos dispostos a morrer, isso é o que resta de sagrado. Pela família, morreríamos. Pela pessoa amada, morreríamos. Pelos filhos, morreríamos. Será que alguém mais pode entrar nesse círculo restrito? Será que em nosso tempo a regressão da capacidade de amar indistintamente chegou ao seu grau máximo? Para onde embarcamos o preceito cristão de amor ao próximo como a sim mesmo? Será que sobrou somente o “si mesmo”? Grandioso era o tempo em que se vivia e se morria por uma causa nobre. Será que o sangue e o afeto exclusivos são o mais nobre e sagrado que nos restou? E Jesus morreu por nós....

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