O AUTORITÁRIO
Voltamos a viver tempos de personalidades autoritárias e, no extremo, de fascistas e fundamentalistas violentos. Nas redes sociais, o fenômeno se alastra e, como uma onda, ou um tsunami, arrasta a todos para um campo minado e perigoso.
Quem é e o que caracteriza a personalidade de atitude autoritária?
São pessoas que se apresentam do “bem”, que não desconfiam que seu ponto de vista é apenas o ponto de vista de um ponto, achando-se portadores de alguma revelação ou verdade especial. Apresentam-se do “bem”, e por isso estufam o peito em atitudes preconceituosas, falando abertamente contra negros, homossexuais, índios e pobres, como se essas categorias de humanos encarnassem algum mal a ser combatido.
Até pouco tempo, o autoritário e o intolerante estavam recolhidos ao armário da ignorância. Agora, eles perderam a modéstia. Saíram do armário, com algumas frases prontas de algum outro autoritário inteligentinho, repetindo mantras de auto-justificação do tipo: “o politicamente correto não me representa”; “a esquerda usa negro, gays e pobres como massa de manobra”; "os defensores dos direitos humanos são defensores de marginais”; “o politicamente correto é careta”; etc.
A personalidade autoritária ouve pouco e, se ouve, não escuta. Escutar é se colocar em atitude de abertura e acolhimento da voz e apelo que vem do outro. O autoritário nega-se a ouvir, e nega-se, sobretudo, a escutar. Finge ouvir e escutar, mas vive um diálogo esquizofrênico com a solidão, colocando-se numa posição prévia eivada de pré-conceitos. Entra em qualquer ambiente e discussão com pré-conceitos que não se sustentam à luz da razão e, por conta disso, se alguém rebater, vai logo para o ataque pessoal.
O autoritário que pouco ouve e nada escuta odeia e nega o diálogo, pois o diálogo desnudaria a sua insegurança e pretensão de já possuir o que só o diálogo verdadeiro pode descortinar: a verdade! O autoritário é cheio de verdade e vazio de dúvidas. Sem dúvidas, por que dialogar?
É por isso que o autoritário ataca não as ideias do outro, mas ataca a moral e a pessoa do outro. O autoritário e intolerante não quer só vencer o outro, pretende eliminá-lo. Ele se afirma na morte do outro enquanto outro, não lhe permitindo que se expresse como tal. Por isso, daria para dizer que a postura autoritária é infantil e, mais do que isso, doente. Saudável é manter o outro como outro porque é do outro que emerge e se constitui o eu. A morte do outro sempre será empobrecedora, medrosa e patológica. Desejar a morte do outro é o que há de mais genuíno do homem bárbaro. Vivemos tempos de volta à barbárie!
A questão é: como tirar da barbárie para a civilização um homem que vive na civilização, com os meios da civilização, desfrutando seus ganhos, mas negando-se a aceitar as regras do jogo civilizacional? Até onde a tolerância com o intolerante é saudável e faz parte do jogo democrático e até onde ela ultrapassa o limite do tolerável? A violência do autoritário se vence com dialética, com o diálogo, com a razão argumentativa, ou com as mesmas armas da ignorância que ele maneja? Se perdermos a esperança e fé na razão, já só um deus poderá nos salvar!
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