DEZ TESES SOBRE O MORALISMO



  1. 1.Ética não é igual a moral. E a moral não é sinônimo de moralismo. Ética é o que deve ser, acompanhado de razões. A moral é o que deve ser, mesmo sem razões, bastando a força do hábito e dos costumes. O moralista é aquele sujeito que exige do outro que faça o que ele nem de longe é exemplo, ou capaz de. Moralista  é o outro nome dado para o hipócrita.
  2. 2. O moralista não é o pior dos sujeitos, porque a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude. O hipócrita é portador do bem, pois ainda mantém referência mínima para com aquilo que deve ser, mesmo que ele não alcance realizar. Pior, muito pior do que o moralista é o cínico.
  3. 3. O cínico é aquele sujeito despudorado e inconsequente, abusador de todos os valores, colocando-se num ponto qualquer fora do mundo real e ideal, vivendo zombando dos que ainda mantém alguma angústia ou desejo sincero de se conectar a algum bem ou algum valor inegociável.
  4. 4. Quando a questão moral se refere à sexualidade, o moralista é, basicamente, aquele que, em não podendo participar, geralmente por medo, tem prazer em desmanchar prazeres dos outros.
  5. 5. Em política o moralista é aquele sujeito ingênuo útil, com regressão de capacidade de pensamento que repete, repete e repete mantras, em abstrato, do tipo: os políticos são todos corruptos, quero que todos sejam presos, são todos iguais, nenhum presta. É capaz de jurar que esbofetearia Trump mas, não se iluda, se for contra  Lula, ele prefere  Bolsonaro.
  6. 6. O moralista odeia o mundo como ele é. Vive num mundo do “como seria bom se”. E geralmente, sem o mínimo de acordo com a realidade, estufa o peito e diz: “antigamente não era assim”, “no meu tempo”, “hoje está essa coisa aí”, “que pouca vergonha”. Falta contexto ao moralista.
  7. 7. Na religião o moralista tem seu habitat natural. Já viste ateu moralista? O moralista religioso é o mais perigoso. Ele não fala por si, fala como se suas palavras fossem apenas eco da voz de Deus. O moralista religioso, por conta disso, é simplesmente incorrigível. Ele se acha no dever de corrigir todos, menos ele próprio.
  8. 8. Outro moralista incorrigível é o messiânico secular. Esse é do tipo que se sente portador de uma missão salvadora terrena, eminentemente ideológica, disfarçada de jurídica, sempre pronto para limpar o mundo dos maus, condenando e prendendo os corruptos, não suspeitando, nem por um breve tempo que, talvez, estejamos todos num mundo em que ao se limpar de algum mal, quase sempre, está se servindo a outro, às vezes, pior ainda!
  9. 9. Há ainda o a-moralista. Aquele sujeito que não vê maldade em nada, e que, em tudo, vê uma razão suficiente e necessária, como se o humano fosse uma espécie de tamanduá que come formiguinhas sem culpa e sem redenção. É assim porque é assim. Ponto.
  10. 10. O medo e a falta de bom humor alimentam o moralista, fazendo passar por seriedade àquilo que não passa de preguiça mental e falta de coragem de ser. O moralista raramente ri, sobretudo de si mesmo, tal como aqueles homens e mulheres, sem brilho nos olhos, do filme A Festa de Babette, até que, um dia, o prazer e a festa, os tira de seu estado infeliz abrindo caminho para uma vida saudável.

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