A COERÊNCIA SEDUTORA DO PAPA FRANCISCO
Francisco de Roma, o Papa, assim como Francisco de Assis, encanta e seduz por uma razão muito simples: pela coerência entre o gesto e a palavra, pela coerência entre o que diz e o que faz. A coerência empresta um louvor à virtude e a moralidade. A coerência confere ao Papa uma autoridade moral que só os seres superiores são portadores. Em tempos de hipocrisia e cinismo, o Papa Francisco é um contraponto luminoso de coragem, coerência, profecia e integridade moral.
Todos sabemos disso e as mídias e as redes sociais são fartas em testemunhar essa sua característica exemplar. Mas pouco sabemos dos seus ensinamentos mais elaborados e sistemáticos. Pouco sabemos da densidade intelectual dos seus ensinamentos. E não há outra forma para alcançarmos esse conhecimento a não ser lendo suas exortações apostólicas e suas cartas encíclicas.
Três são as obras maiores, que condensam os ensinamentos intelectuais, até o momento, do Papa Francisco. Evangelli Gaudium (sobre a Alegria do Evangelho), Laudato Si’ (Sobre o Cuidado da Casa Comum) e Amoris Laetitia (Sobre a alegria do amor).
O tom, o espírito, os princípios animadores das exortações e das encíclicas são sempre os mesmos: como bem viver a fé em Jesus Cristo no mundo contemporâneo? Ou ainda, o que podemos aprender da realidade para melhor servir a própria realidade e não ficarmos com doutrinas dogmatizadas e sem viva?
No Evangelli Gaudium o tema central é como anunciar Jesus num tempo de mudanças aceleradas e de pluralidade e diversidade quase infinitas? A mensagem de Jesus ainda faz sentido para a igreja e para o mundo? Se ainda faz sentido, onde estamos falhando na comunicação e na transmissão da fé? Qual espiritualidade, do sacrifício ou da alegria, mais condiz com o tempo em que vivemos?
Na Laudato Si’, sobre o cuidado da casa comum, o Papa convoca e provoca a consciência e a ação, não só os fiéis católicos, mas todos os homens e mulheres de boa vontade que estão preocupados com a crise ecológica que degrada a terra, polui o ar, derruba as florestas, contamina as águas, destrói a biodiversidade e aumenta o sofrimento dos pobres da terra. A crise não é somente ambiental, mas ambiental, animal e humana. O apelo é para ressuscitar o espírito do Cuidado que tanto animou São Francisco de Assis, para que a vida na terra possa continuar em abundância, e não em agonia.
Na Amoris Laetitia a questão central é como pensar as dinâmicas do amor e a dinâmicas das famílias contemporâneas a luz da dinâmica do amor cristão e da família de Nazaré. Nada de idealismo abstrato e desencarnado que está sempre pronto a julgar a realidade, ao invés de compreender e de discernir o que há de luz no meio das sombras, de trigo no meio do joio, de reino no meio do anti-reino. A chave de leitura desse texto é o discernimento como sabedoria prática.
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